18 de março de 2020

(Escreve!)

Quando eu era mais nova, escrever era como aliviar a pressão. Sabe quando você abre uma comida embalada à vácuo e ela simplesmente solta todo aquele ar preso? Pra mim era isso. Eu não conseguia viver sem, porque me preenchia, me esvaziava, me dava vida.

Hoje em dia, porém, sinto dificuldade em encaixar as palavras e dizer o que quero. Não consigo usá-las da forma que desejo, fazer algo bonito, tornar sentimentos confusos num elegante texto ou poema bem construído. Toda vez que eu sento nessa escrivaninha, travo uma batalha com cada letra que aperto no teclado, tentando descobrir como usá-la da melhor forma.

Faz algum sentido?

Não sei, mas me sinto como Elizabeth Bishop no único poema que conheço dela, naquele trecho que diz:

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério

Sempre interpretei esse "(Escreve!)" como se pra ela fosse difícil continuar o poema, como se a dor de perder a pessoa que ela ama, a voz, o riso etéreo, fosse tão dilacerante que a impedisse de continuar.

Não passei por nada do tipo ultimamente, mas cada frase que digito é uma pequena batalha (Escreve!), e às vezes ouço Bukowski na minha cabeça, dizendo:

se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever 
procurando as palavras, 
não o faças.

5 comentários

  1. Olá Ester! Eu assim como você, escrevo desde de pequena e também sinto uma certa dificuldade em encontrar as palavras certas e de fazer com que elas façam sentido. Eu sempre escrevi para desabafar, para desanuviar a cabeça, mas quando sento para desenvolver uma história ou apenas escrever qualquer coisa que venha na minha cabeça, sinto que há algo que algo me prende e não consigo encaixar as palavras. Tem dias que sou teimosa e escrevo, porém acabo apagando cinco minutos depois.
    Amei o seu cantinho e com certeza sempre estarei aqui! Até mais :)

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    1. oi, bia! que legal te ver por aqui <3

      sim, passo pelo mesmo ciclo de escrever e apagar. se eu postasse aqui tudo que escrevo, o blog ia ser atualizado duas vezes por dia dksjdk acho que estamos passando por uma crise criativa, infelizmente. espero que as coisas melhorem pra nós duas.

      e que bom que você gostou do doravante! sinta-se sempre bem-vinda =)

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  2. oi ester!!

    eu entendo um pouco, quando eu era mais nova conseguia escrever para me expressar, não que eu não faça mais isso atualmente (considerando que continuo escrevendo no blog), mas era diferente na época, eu escrevia histórias, mas hoje em dia não consigo mais, quando penso sobre isso tenho a sensação de que perdi algo importante.

    espero que consiga passar por esse dilema de escreve vs não escreve, ás vezes devemos apenas seguir o nosso coração e a nossa vontade, sem medo de errar ou de qualquer outra coisa <3

    beijos

    lemon, cats and icecream

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    1. oi, yuzu!

      sim, compartilhamos do mesmo sentimento. sinto que perdi a sinceridade e a espontaneidade que me caracterizada na época, mas acho que é normal, não é?

      muito obrigada pelo conselho e pela energia positiva, espero tudo em dobro pra você e obrigada por visitar o blog <3

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  3. Olá! Eu me sinto exatamente assim. Quando mais criança eu escrevia muito e especialmente para expressar os meus sentimentos e deitar cá para fora. Hoje em dia eu também preciso de o fazer, mas é tão mais difícil. As palavras trocam e deixam de existir, não sei por onde começar, nem o que escrever nem onde acabar. é como se os meus pensamentos e emoções ficassem tão confusos que no momento de traduzir para palavras expressas e claras, tudo ficasse em branco.

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